quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Metáfora das Crianças No Rio e a Evolução para a Polícia Comunitária[i]

Rolim[ii] (2006, p. 67) usa uma metáfora muito explicativa, para compreender a necessidade da evolução para a filosofia da polícia comunitária no Brasil. Ele propõe que imaginemos estar passeando pela margem de um rio e que, subitamente, percebamos que uma criança esteja sendo arrastada pela correnteza. Certamente, pularíamos no rio para tentar salvar a criança. Imaginemos que o gesto tenha sido bem sucedido e tenhamos salvado a criança. Certamente, iríamos comemorar o feito com muita felicidade.

Vamos imaginar, agora, que todas as vezes que passarmos pela margem daquele rio encontremos uma criança sendo arrastada pelas águas, obrigando-nos a repetir o ato heroico. As chances de êxito em salvar as crianças seriam menores ao passo que as chances de sucumbirmos na tentativa, perdendo a própria vida, seriam maiores. Uma coisa, entretanto, ficaria evidente: alguma coisa anormal estaria acontecendo em algum lugar rio acima.

Portanto, tão logo a repetição das ocorrências fosse comprovada, parecer-lhe-ia não apenas óbvio, mas urgente, descobrir o que estava acontecendo com as crianças antes de elas caírem na água. Então, você provavelmente iria percorrer as margens do rio em direção a sua nascente para tentar descobrir as causas de tão chocante e misteriosa sucessão de tragédias.

O trecho acima retrata a crítica feita pelo autor ao modelo que até então vem sendo adotado pela grande maioria das polícias, que apenas “nada” atrás das crianças que caem nas águas, sem se preocupar com o motivo pelo qual elas acabam nessa situação.Em contrapartida, o modelo preventivo de polícia baseia-se na premissa de que o policial deve atuar de modo a reduzir as situações e circunstâncias que causam a prática delitiva.

A filosofia da polícia comunitária é esta alternativa de polícia que resulta em prevenção de eventos delitivos, antes que alguém seja vitimado e precise de um agente de preservação da ordem pública para resgatar o estado de normalidade, por vezes com o risco da própria vida.



[i] Trecho extraído de MARCINEIRO, Nazareno. Teoria de Polícia Comunitária. Livro Didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2009, p. 140-141.

[ii] ROLIM, Marcos. A Síndrome da Rainha Vermelha: policiamento e segurança pública no século XXI. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.

sábado, 19 de setembro de 2009

Um Marco Conceitual de Polícia e Policiamento Comunitários

Como conceitos iniciais, fragmentos do artigo "Uma breve apresentação em Polícia Comunitária". O mencionado artigo está dividido em sete tópicos e veremos nesta etapa os três primeiros. Boa leitura!

UMA BREVE APRESENTAÇÃO EM POLÍCIA COMUNITÁRIA

1 UM MODELO DE POLÍCIA

Como ponto de partida, podemos citar a convicção de Marcineiro (2009, p. 175) de que “gerenciar os processos produtivos de prestação do serviço de prestação da ordem pública com qualidade é o caminho para evoluir para a filosofia de Polícia Comunitária”.
Evoluir para um novo modelo implica em adequar o modelo vigente às novas necessidade interpretadas e almejadas, a fim de se obter os resultados desejados.
Marcineiro (2009, p.119) afirma “que a Polícia Comunitária não é a criação de uma nova polícia, mas sim a adequação do atual modelo de polícia aos novos anseios da sociedade, aos direitos e garantias individuais previstos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e ao Estado Democrático de direito também previsto na Carta Magna”.
Mas o que vem a ser “Polícia Comunitária” e “Policiamento Comunitário”?

2 POLÍCIA COMUNITÁRIA

Polícia Comunitária é um modelo de polícia baseado na Escola de Polícia Oriental, o qual “enfatiza as ações dos órgãos de Segurança Pública orientados para o serviço à comunidade”, Marcineiro (2009, p.107). Esse modelo policial é comum desde século XIX, por volta do ano de 1879, no Japão (SENASP, 2006, p.259). No entanto, está fortemente interligado na estrutura da polícia moderna, criada em 1829, na Inglaterra, por Robert Peel, (Marcineiro, 2005, p.24-26).
Conceitualmente, Polícia Comunitária pode ser entendida pelas palavras do Chief Bob Kerr, da Toronto Metropolitan Police (Canadá) apud Ferreira (1995), em Marcineiro (2009, p.115):
"Polícia Comunitária é o policiamento mais sensível aos problemas de sua área, identificando todos os problemas da comunidade, que não precisa ser só os de criminalidade. Tudo o que possa afetar as pessoas passa pelo exame da Polícia. É uma grande parceria entre a Polícia e a Comunidade".

Trojanowicz e Bucqueroux (1994, p.4) dilatam esse entendimento:

"[...] é uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona ma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como crimes, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, como o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área".

A concepção de Polícia Comunitária, na visão dos autores citados, perpassa pelas dimensões da filosofia e da estratégia organizacional. A primeira corresponde a um novo modo de compreensão e interação para com a realidade social vivenciada, tanto do público interno como do externo. A segunda racionaliza o planejamento administrativo que visa atingir os objetivos propostos na Segurança Pública.

Constituindo-se em uma filosofia e uma estratégia organizacional, significa dizer que, se adotada, deverá ter seus princípios acolhidos (reconhecidos e compreendidos) por toda a corporação e ter sua aplicação orientada por um plano estratégico de atuação, observando as especificidades e procurando identificar a melhor maneira de implantá-la nas comunidades onde servem (TORRES, 2008) apud MARCINEIRO (2009, p.120).

Marcineiro (2009, p.111) confirma o pensamento conceitual sobre Polícia Comunitária em relação ao Policiamento Comunitário, dizendo que aquele termo “remete a um significado mais abrangente, ou seja, contem todas as atividades relacionadas à resolução dos problemas que comprometem a qualidade de vida de uma comunidade”.

3 POLICIAMENTO COMUNITÁRIO

O Policiamento Comunitário, por sua vez, é uma forma de policiar. Entende-se por policiamento[1] todo emprego policial, seja por meio dos mais variados meios de locomoção ou a pé, que tenha como finalidade a prevenção e inibição de práticas delituosas pela ostensividade de sua presença (Marcineiro, 2009, p.112).
O referido autor expõe que “o policiamento comunitário também pode ser chamado de policiamento de proximidade e constitui-se de um primeiro estágio para se evoluir para a filosofia de Polícia Comunitária que (...) busca engajar a todos na construção de espaços de vida em sociedade mais tranquilos e pacíficos” e conclui:

Policiamento Comunitário, portanto, é uma filosofia de patrulhamento personalizado de serviço completo, onde o mesmo policial trabalha na mesma área, agindo numa parceria preventiva com os cidadãos, para identificar e resolver problemas.
(Continua...)
___________________

[1] Conceito de Policiamento. Decreto-Lei nº 88.777, de 30 de setembro de 1983. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto/D88777.htm. Acesso em 20/4/2009.

MARCINEIRO, Nazareno. Teoria de Polícia Comunitária. Livro Didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2009.

MARCINEIRO, Nazareno; PACHECO, Giovanni. Polícia Comunitária: Evoluindo Para a Polícia do Século XXI. Florianópolis: Editora Insular, 2005.
SENASP. Curso Nacional de Multiplicador de Polícia Comunitária/Grupo de Trabalho, Portaria SENASP nº 01/2006. Brasília: SENASP, 2006.

TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: Como Começar. Rio de Janeiro: PMERJ, 1994.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Um começo, uma percepção, uma ação.

Neste meu primeiro contato, gostaríamos de discorrer sobre o objetivo deste blog e relatar brevemente sobre nossas motivações (e motivadores) neste caminho teórico-metodológico e técnico-prático.

Com relação ao nome do blog, Policiamento & Comunidade refletiu satisfatoriamente, entre outros nomes disponíveis, a idéia de interdependência e corresponsabilidade existentes na tensa relação da atividade policial e da qualidade de vida na comunidade em um Estado Democrático de Direito. Estes serão marcos conceituais os quais discorreremos em nossa jornada.

Bem, os objetivos deste blog contemplam (1) descrever, analisar e contribuir para as estratégias em Polícia Comunitária, (2) realizar apontamentos sobre os eixos estruturantes da Política Nacional de Polícia Comunitária (filosofia, estruturação organizacional, parceria e proatividade), (3) desenvolver estudos de caso na relação polícia-sociedade, inseridos na modalidade de policiamento comunitário, e (4) capacitar operadores de segurança pública e cidadãos para processos de coletivização e mobilizações comunitárias.

E tudo – ou quase tudo – tem seu referencial motivador. Como não seria diferente, o cerne disso está em nossas famílias. Em seguida, encontramos apoio e confiança nos profissionais dos Cursos Formação de Cabos e Sargentos e no de Aperfeiçoamento de Sargentos que tivemos o prazer de conhecer e lecionar. Recebemos, ainda, o estímulo para perseverar dos companheiros de farda (superiores e pares) e dos amigos. Por último, mas não menos importante, na amizade do Aderivaldo Cardoso, irmão em Cristo, mobilizador social em Riacho Fundo-DF, Policial Militar, especialista em Segurança Pública (UnB) e articulador do blog Policiamento Inteligente.

Nossa expectativa é que todo conteúdo que será exposto neste blog, três vezes por semana, possa ser avaliado e aplicado por todos aqueles que almejem uma Segurança Cidadã.

Um abraço a todos,
Os Autores